segunda-feira, 28 de outubro de 2019


O Incêndio do Palácio - 1934

4 para 5 de Outubro de 1934, fez agora 85 anos. 

Transcrevendo do

Grande Perda para o Património Nacional
O incêndio que devastou o Palácio de Queluz
devorou toda a ala esquerda do edifício e arruinou grande parte dos preciosos exteriores

O Palácio de Queluz, a joia de arte arquitectónica da segunda metade do século XVIII, galante, delicada, cerimoniosa – pedaço evocativo de um período da história portuguesa – está hoje reduzido em grande parte a escombros.
            O pavoroso incêndio de ante­‑ontem e da madrugada de ontem destruiu em poucas horas a graça harmoniosa daquele conjunto precioso [...].

O que ardeu totalmente
            Para orientar o leitor, coloquemo­‑nos como visitante no “Corredor das Mangas”, sob a Fachada de Cerimónia, centro teórico do palácio, e que abria para a ala esquerda (totalmente destruída) e a ala direita poupada em parte apenas.
            A Sala da Tocha e logo a dos Archeiros, de silhares de azulejos de tapete, e à qual paravam antigamente os coches, as berlindas, os estufins – desapareceram completamente.  As salas do Bilhar e dos Particulares, onde se encontravam belos quadros e móveis bons – foram devoradas.
            A magnífica Sala dos Embaixadores ou das Talhas, que já existia, embora sem grandeza, no tempo dos Filipes, quando a moradia pertencia ao 2º. Marquês de Castelo Rodrigo; verdadeira preciosidade, revestida de azulejos, pavimentada de ladrilho azul e branco em xadrez, notável pelo seu tecto “O Serenim na Côrte de D. José” – foi das pimeiras a ser devorada.  O incêndio principiou justamente por cima, numa casa onde trabalhavam operários de carpintaria.
            Estava agora a ser reconstruída, estava pintada de novo e dava­‑se por pronta.  Justamente há três dias os artistas mandaram arrear os travejamentos, depois de o tecto ter sido elevado uns tantos metros.
            Das colunas oitavadas, revestidas de espelhos, onde assentam dosseis [...], obra onde se viam o Rei D. José, a princesa e infantas, o mestre de música da Raínha – nem sinal.
Comparar com:
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pontos-de-atracao/roteiro-interiores-queluz/
            A Sala do Conselho ou Do Despacho, paredes apaineladas, boas pinturas no tecto, onde se reuniam os ministros – é outro montão de escombros.
            O precioso toucador da Raínha (Carlota Joaquina), pequena câmara “Rocaille”, revestida de espelhos, com paineis de delicadísima pintura [...] e o quarto de dormir da Raínha com pinturas sobre vidro, figuras bucólicas dormindo, e onde morreu Carlota Joaquina há 134 anos – foram pasto das chamas.
            A lindissima Sala das Merendas, de formoso tecto branco em hexágonos de rosetões dourados, com os seus quatro paineis representando merendas das caçadas reais  e festas galantes de Salvaterra e Alfeite [...] – sumiu­‑se na voragem.
            Finalmente a Sala D. Quixote – o quarto onde D. Pedro IV nasceu em 1798 e morreu em 1834 [...] com as suas oito colunas sustentando o tecto circular, com as suas dezoito pinturas de Manuel da Costa e José António Narciso, [...] abrindo para a balaustrada Robillon – escoou­‑se pela fauce escancarada das caves, que eram depósitos de material de arte, num inferno de fogo.

As salas que se salvaram
            As salas de Jantar, a Sala de Escultura, que foi o “atelier” de uma princesa, o Oratório, o Quarto das Princesas – todas de resumido mérito – foram poupadas.
            A manífica Sala do Lanternim, decoração Império, por onde se entra para a tribuna da capela, escapou sem estragos de maior.
            Nela estava o retrato famoso de D. Miguel [...]. Este quadro havia sido há pouco retirado do seu lugar, para restauro.  Se lá estivesse corria o risco de arder ou de se inutilizar ou deteriorar com a água e com a precipitação dos salvados, como aconteceu a muitos móveis, quadros e peças de cerâmica.
            A Capela foi poupada integralmente.  Na ocasião do incêndio foi quase desguarnecida com o justo receio de o fogo lá chegar.  Poupou­‑se, pois, todo o seu receio, de boa obra de arte, coros entalhados, ricos paramentos, banquetas de prata, detalhes preciosos de ourivesaria. [...].
            A preciosa Sala de Música ou das Serenatas, agora em obras, de ábside elíptica, rica de talha e a Sala do Trono que corresponde ao centro do corpo lateral na direita do edifício, também em obras, molduras barrocas, riquíssima de talha de arte, portas de espelho, tecto muito bom, onde a pintura e as obras de madeira se conjugam admiravelmente – escaparam.
            Não tinham, de resto, mobiliário.

O recheio salvo
            Foi ainda assim bastante o recheio artístico salvo.  A circunstância de estarem em obras algumas das salas ardidas poupou bastante o mobiliário, que delas tinha sido transferido.
            Os depósitos, porém, cheios de tapeçarias e de vários objectos de arte, que ficavam [...] sob a Sala D. Quixote arderam e suportaram os escombros de todo o edifício.
            Além do retrato de D. Miguel salvou­‑se o busto em cera de D. João VI porque fora há tempos retirado da Sala D. Quixote.  Vimo­‑lo, com a redoma de cristal partida e o busto intacto,[...].  Foi levado para o edifício do largo, anexo do palácio, onde está a torre.
            Os armários holandeses salvaram­‑se ambos; um foi conduzido para os jardins, sem estrago de maior; o mais precioso, datado do começo do século XVII, foi levado há tempos para o palácio de Belém.
            No começo do incêndio dedicadas pessoas da vila, empregados do palácio, alunos da Escola de Agricultura, salvaram centenas de peças de mobiliário, espelhos, cerâmicas, quadros, estampas, talha, o que tudo ontem durante o dia se foi arrumando na capela e no citado anexo do palácio.[...]
            No Jardim de Neptuno, fronteiro ao Palácio, e sobre montões de salvados, [...] via­‑se ontem às 11 horas da manhã um crucifixo antigo, com relíquias nos braços de madeira, cujo Cristo, em marfim amarelecido, parecia contemplar o quadro angustioso – já sem um braço, que se perdera na refrega do salvamento com as chamas.
            Por felicidade, das salas ardidas, tinham sido retirados há pouco tempo 28 quadros grandes, do melhor que as paredes continham, e e que foram conduzidos para a Escola de Belas Artes, antigo atelier do mestre Luciano Freire, onde o distinto artista sr. Fernando Mardel os tomou à sua conta de restaurador paciente.
            Julgamos que lá se encontram as telas da Sala das Merendas, e porventura algumas da Sala D. Quixote.
            Os castiçais de prata há meses encontrados numa parede do quarto de D. Carlota Joaquina – foram salvos também.  E os lustres quase todos, porque estavam desmontados por motivo das obras.

A origem do fogo
e a suspeita de um crime
Não se sabe, nem poderá saber-se, a hora a que começou o incêndio.
            Como já foi tomado público, eram 22 horas e 50 minutos quando um soldado da 3ª. Companhia da Administração Militar, unidade aquartelada num edifício fronteiro ao palácio, antigo quartel do Grupo de Artilharia a Cavalo, deu pelo fogo.
            De começo o soldado não julgou tratar­‑se de um incêndio.  Mas pouco depois certificou­‑se da apavorante realidade.  Bradou às armas.  Acorreram oficiais soldados que se levantaram, dos catres, e povo que foi surpreendido pelo alarme.
            Ardia já toda a ala esquerda do edifício.
            Desde quando?
            As labaredas não tardaram a pôr ao quadro, recortado em negro, uma mancha trágica de desgraça.  Os moradores do palácio, na maioria gente modesta, gritavam como loucos.  Fez­‑se o pânico.
            O fogo invadia tudo. A ventania – que não era grande [...] – era contudo suficiente para animar a acção devastadora das chamas.
            O conservador do palácio, antes administrador, e ainda antes almoxarife – designação autêntica e pela qual ainda é tratado – o sr. José de Calazans da Silva e Sousa, que ali presta serviços desde o tempo da monarquia, há 27 anos, pessoa respeitável e apaixonada pela sua missão – saltou do leito, apesar se encontrar atacado de reumático.  O seu estado de espírito era desolador.
            Pôde verificar que era no ângulo da ala esquerda que o fogo fizera já os seus maiores estragos, e fácil foi determinar que o incêndio começou no segundo pavimento desse ângulo, sobre a Sala dos Embaixadores, pintada de fresco, com abundância de materiais inflamáveis, sobretudo a cola de vernizes que seguravam o revestimento renovado das paredes.
            Nesse pavimento trabalhavam operários carpinteiros, e o chão estava naturalmente cheio de aparas de madeiras,e materiais de fácil combustão.
            A versão inicial, e aparentemente lógica, é a de que uma ponta de cigarro, deixada cair por descuido quando os últimos operários abandonaram o edifício, tivesse dado origem ao incêndio.
            Nada mais verosímil.
            Seis horas da tarde?  Sete horas?
            Tudo mistério.   [...]
            A dresgraça provoca uma reacção, e desta vez a reacção foi: “fogo posto”.
            O certo é que as pessoas de categoria, e das de maior responsabilidade na conservação do palácio, admitem essa hipótese – a de crime – sem a forçar.  Não ouvimos nenhum bombeiro dos que primeiro compareceram pensar em tal.
            – Mas como pode estar ardendo o edifício desde as 18 horas até às 20 e tal sem se dar por isso – argumentam os partidários de “fogo posto”.
            O fogo não se teria desenvolvido logo.  Teria “rastilhado” com dificuldade até perfurar o forro do segundo para o primeiro pavimento (Sala dos Embaixadores).  E depois, quando lá chegou – foi pólvora. [...]
            Dois agentes da Polícia de Investigação Criminal estiveram esta manhã no Palácio, e ouviram os Almoxarife, sr. José Calazans, e o construtor empreiteiro, sr. Ernesto Augusto da Costa.
            Eram cerca de 80 operários – pintores, carpinteiros, entalhadores, douradores, pessoal escolhido  que trabalhavam no Palácio. [...]
            E os homens apresentaram­‑se hoje todos ao serviço, desolados. [...]
Pormenor da fotografia aérea feita pelo G.E.A. "República". Negativo oferecido pelo cmdt daquela unidade a Carlos Costa.

Reconstitui-se o Palácio ?
            O Palácio de Queluz – Monumento Nacional – há muita dezena de anos que oferecia lamentável aspecto de abandono.
            Muitas salas ameaçavam ruína, e se não lhe acudissem a tempo, corriam o risco de se perder.
            Na vigência da República e em diversas épocas, várias obras, sem plano geral definido têm sido feitas, embora nem sempre se tenham concluído.[...]
            Ultimamente, porém, foi votada uma verba mais ampla para obras no edifício. [...]
            Era delegado do Director-Geral nas obras de Queluz, o engenheiro sr. Leal Faria, e encarregava­‑se da direcção artística o arquitecto sr. Guilherme de Andrade.
            Como delegados do C. Superior de Belas Artes nesta espécie de comissão estavam os srs. Raúl Lino e dr. José de Figueiredo
            Eram estes senhores que dirigiam ou acompanhavam superiormente os trabalhos da restauração das salas da ala esquerda, trabalhos que começaram em Março do ano passado.
            O artista sr. José Maior, moldador e entalhador, que tem “atelier” numa das dependências do Palácio, trabalhava também na reprodução de pastas e moldes. [...]
            O arquitecto sr. Guilherme de Andrade disse­‑nos:
            — Tenho as plantas, alçados e cortes de todo o edifício.  De quase tudo há moldes, modelos e elementos para a reconstituição, no que respeita à parte arquitectónica e aos interiores artísticos.  Claro que parte do recheio não se pode repôr.  Mas há muito com que preencher as salas, uma vez postas de pé, e reproduzidas até com elementos que estavam fora das salas, e a elas pertencem originalmente.

O serviço de incêndios
Os primeiros voluntários a comparecer foram, naturalmente, os de Queluz cuja sede é mesmo no edifício do Palácio, ala direita poupada pelo fogo.  Não foi contudo fácil ao pessoal tomar conta do material, pois o braseiro dava a impressão de envolver tudo.  Os voluntários dos arredores foram chegando, sucessivamente.  Podemos enumerar, dos que nos lembre: Queluz, Amadora, Sintra, Belas, Paço de Arcos, Barcarena, Carcavelos, Algés, Carnaxide, Dafundo, Agualva, Oeiras, e de Lisboa as quatro secções de Lisbonenses, Ajuda, Lisboa e Campo de Ourique.
Foram estas corporações de voluntários com todo o seu material que atacaram o fogo, dentro dos jardins, nunca tendo faltado a água, tirada das cisternas e tanques pelas bombas dos vários materiais.
Só mais tarde, e após várias “démarches” [...], chegaram os bombeiros municipais dos quarteis 1 (Cortes) e 11 (Laranjeiras) que atacaram o fogo pelo exterior, onde se fez sentir a falta de água.
Os regulamentos – que têm de ser modificados – impediam que os bombeiros municipais saissem fora da área da cidade.  O sr. capitão Marques, do Corpo de Bombeiros Municipais dirigiu o ataque ao exterior[1].
Os voluntários, sem comando único, reuniram os chefes, e deliberaram o ataque, cada um com as suas forças, cortando o fogo a tempo de invadir a ala direita.  Foi um serviço a destacar.  Ao todo devem ter trabalhado 80 agulhetas.
A este respeito recebemos de um dos comandantes mais categorizados dos voluntários que trabalharam a seguinte carta:
“Numa descrição vinda a público, diz-se que o sr. capitão Marques (do Corpo de Bombeiros Municipais de Lisboa)  iniciou então, o verdadeiro combate ao incêndio. Organizou os seus homens e os voluntários e fê-los trabalhar dentro da disciplina e das regras técnicas, que se impunham e que, até aí, não tinham sido cumpridas.
Depreende-se desta notícia que as Corporações de Voluntários que compareceram no local respectivo, não teriam actuado acertadamente se não tivesse sido aquela intervenção, podendo até levar as populações, cuja seguraça está a cargo delas, a julgar que os seus bombeiros voluntários se não encontram habilitados a cumprir a sua missão, pelo desconhecimento daquelas regras, ainda que o material se torne insuficiente, nalguns casos, em quantidade.
A verdade, porém, é que o “verdadeiro combate” começou e desenvolveu­‑se, conforme as referidas corporações (Queluz, Amadora, Belas, Sintra, Paço de Arcos, Barcarena, Carcavelos, Algés, Dafundo, Carnaxide, Agualva, Lisboa, Lisbonenses, Ajuda, Campo de Ourique, etc), iam chegando, sem ali encontrarem uma direcção única, que nunca existiu, orientando-se os respectivos comandantes, com os seus homens e material, como melhor lhes pareceu, adoptando a técnica que, não sendo antiga nem moderna, o bom senso e as circunstâncias (e só isto) impunham.  Não se manifestou, pois, aquela intervenção, como se afirmou.
O que houve, talvez, de início tanto da parte dos voluntários como dos referidos municipais, foi uma imperfeita exploração de águas, em razão do desconhecimentodos locais onde elas se encontravam suficientemente, porque nunca faltaram.”
Na manhã de ontem todos os voluntários abandonaram, por já desnecessários, os trabalhos de rescaldo, que ficaram entregues aos voluntários de Queluz.  Os municipais retiraram também muito cedo.
Os trabalhos de rescaldo são demoradíssimos, e, apesar de se supor terminados pela meia tarde de ontem, continuaram hoje durante todo o dia.
Raras vezes, na história dos fogos grandes, se terá presenciado um facto assim.
Outra nota que convém focar: quando se deu pelo incêndio o palácio estava perdido.  Todo o trabalho dos bombeiros estava em cortar a estrada de fogo.  E isso foi feito[2].
O sr. ministro da Obras Públicas quando chegou ao palácio, e se certificou da meneira como o fogo foi combatido, mandou chamar o chefe dos voluntários de Queluz, sr. Carlos Costa, a quem cumprimentou.

Ouvindo o major Vilar
comandante dos Bombeiros
Tendo­‑se atribuído à demora na prestação de socorros pelos Sapadores Bombeiros de Lisboa, o incremento que o incêndio teve, procurámos o comandante daquela entidade, sr. major Frederico Vilar, que nos disse:
        — Tomei conhecimento, realmente, duma afirmação de que o material do B.S.B. demorou hora e meia a comparecer depois da primeira chamada e que esta fotra feita pelo oficial de dia da 3º.Companhia de Administração Militar aquartelada [em Queluz].  Para esclarecimento do púlico enviei hoje mesmo para a Imprensa da manhã uma rectificação.
— Essa rectificação diz, em resumo...
— Que o Batalhão de Sapadores Bombeiros – cuja missão é defender a capital contra o risco de incêndio – actua prontamente, logo que lhe seja solicitada cooperação,em qualquer sinistro dentro dos limites da área da cidade à sua guarda.
— E fora dela...
— A cooperação do B.S.B. está prevista, mediante requisição do sr. Governador Civil e com conhecimento do sr. Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Lisboa.  Ora a primeira comunicação de fogo no Palácio de Queluz foi recebida na Central Telefónica do Comando do B.S.B. às 22 horas e 55 minutos e feita pelo sr. dr. Franco Afonso, de Queluz, por intermédio do telefone da rede da Companhia dos Telefones.  Imediatamente se procurou comunicar com o sr. Governador Civil, quer directamente para a sua residência, quer para o Governo Civil e comando da P.S.P., sendo postos em sua procura os elementos indispensáveis.  Ao mesmo tempo perguntava­‑se para a 3ª. Companhia de Administração Militar, aquartelada em Queluz, qual a importância do sinistro.  Dali nos era dado conhecimento de que o fogo lavrava com grande intensidade.  É de notar que esta comunicação foi solicitada pela Cental Telefónica do Comando do B.S.B. e não para ela feita pelo sr. Oficial de Serviço àquela Compania de A.M.  Se este senhor  fez qualquer chamada de socorros para Lisboa não o fez para o Batalhão de Sapadores Bombeiros, pois só pela sua Central Telefónica ela podia ser recebida.
— Como não encontraram o chefe do distrito, que fizeram?
— Às 23 horas e 12 minutos, foi recebida do Grupo e Esquadrilhas de Aviação “República”, da Amadora, comunicação de que o o fogo do Palácio de Queluz era dali avistado e lavrava decerto com intensidade.  Em face desta comunicação, tratando­‑se de um edifício do Estado, de valor de todos conhecido, tomou este Comando sobre si a responsabilidade do mesmo sem a isso estar autorizado, fazendo seguir imediatamente para o local dois autos de pronto­‑socorro, um Chefe de Divisão e um Chefe de Secção, a fim de cooperar no ataque ao incêndio, e este facto mereceu registo especial na parte de serviço da Central Telefónica.  A saída dos aquartelamentos está registada às 23 horas e 17 minutos.  Entretanto aprontavam­‑se  imediatamente mais dois pronto­‑socorros que, completemente guarnecidos, saíram para o local às 0 horas e 1 minuto.  Anteriormente, já para lá haviam seguido um elemento do comando e um Chefe de Secção.  Às 23 horas e 25 minutos, o sr Governedor Civil requisitou telefonicamente  os socorros do B.S.B., sendo­‑lhe dado conhecimento de que já iam a caminho.  Houve, assim, antecipação da cooperação requisitada.  E que eles foram rápidos, prova­‑o o registo, feito às 23 horas e 35 minutos – dezoito minutos após a saída – da comunicação do Chefe da Viatura que ao local chegou em primeiro lugar e que confirmava a grandeza do sinistro.
Mediaram pois 40 minutos entra a primeira chamada extra­‑oficial e a cooperação desta unidade, e 23minutos entre a parte de fogo do G.E.A. “República” e essa cooperação.
E depois do sr. major Vilar nos mostrar os registos da Central Telefónica, com as indicações a que se referira, perguntámos­‑lhe o que há sobre segurança de outros palácios e museus, em caso de incêndio.  Respondeu­‑nos:
        — Desde 1929 que esta unidade levou ao conhecimeno das entidades superiores a necessidade de serem tomadas medidas de protecção a esses edifícios. O incêndio do Palácio de Queluz veio infelizmente a confirmar os nossos receios.




[1]   O regulamento também determinava que o pessoal do B.S.B. quando actuava fora da cidade de Lisboa, colaborando com os voluntários, ficavam sob o comando destes.  Estes Sapadores Bombeiros tiveram alguma dificuldade porque do lado exterior, para além do lago dos cavalos não havia mais pontos de água e, quanto a Bocas de Incêndio não valia a pena procurá-las.
[2]   A carga térmica era enorme; o incêndio atingiu tão altas temperaturas que o vigamento de aço e algumas máquinas de costura que existiam no piso superior derreteram e pingaram no piso de baixo – a temperatura de fusão do ferro é superior a 15000 C.  A única solução foi cortar o próprio edifício; foi isso que o foi feito.

O incêndio que devastou o Palácio de Queluz